Pequeno homem sendo apagado: Primeira parte

Chovia forte. Eram cerca das cinco horas da tarde. A jovem Ruth caminhava pacientemente dividindo o espaço de seu guarda-chuva vermelho com um homem que caminhava lentamente. Andavam em direção ao hospital mais próximo. A moça não se incomodava com a lama que sujava seus pés, nem com os carros que a banhavam, apenas caminhava conduzindo o velho homem, que também não demonstrava impaciência para com a garoa.
Enfim chegaram ao hospital. A jovem limpou seus pés sujos no tapete e pediu para o homem aguardá-la, pois ela iria chamar alguém que pudesse ajudá-los. Conversou por alguns minutos com a recepcionista e esta pediu que Ruth fosse um pouco paciente, pois em breve ela seria atendida.
Não se passaram dez minutos e um médico aguardava-os frente à sua sala. Lentamente o velho homem levantou-se e foi vagarosamente conduzido ao médico.
- Boa tarde, senhorita, sou o Dr. Márcio, em que posso ajudá-la?
- Boa tarde. Encontrei esse homem na rua, sentado frente a um poste. Ele não me parece bem, por isso o trouxe aqui.
- Hum... Qual o seu nome, senhor?
O homem aparentava ter cinqüenta anos, trajava um casaco vermelho e rasgado, calça jeans e estava de pés descalços. Este não deu atenção a Márcio.
- Senhor, olhe para mim, e responda ao menos qual é o seu nome. – tentou novamente o médico.
Tinha ele um olhar centrado no vago. Seus lábios pareciam dizer alguma coisa, mas não se podia ouvir sua voz. O clínico abaixou-se um pouco, aproximando-se mais do misterioso indivíduo.
- Juan... Juan.
- Juan?! Este é seu nome? – perguntou Márcio
- Juan. – repetiu ele
- O que houve contigo?
- Juan... Juan...
Ruth, que observava tudo calada, de braços cruzados e encostada na parede pergunta o que se pode fazer por aquele cidadão e o doutor balança a cabeça:
- Nada... – lamentou Márcio – Leve-o a um hospital da rede pública, lá os médicos saberão como cuidar dele, levando-o para onde for necessário.
- Essa é a única solução, doutor?
- Sim. – afirmou Márcio vestindo seu jaleco branco. – Eu posso levá-lo até lá, se quiser.
- Sério? – sorriu a moça. – Posso ir com você?
- À vontade.
Chegando à recepção Márcio alegou não demorar.
Juntos, Ruth e o homem saíram do hospital, entrando em um Palio vermelho, no qual foram levados por Márcio ao Hospital São Marcos, o melhor hospital público daquela cidade.


***

Sábado à noite. São 20h. O despertador toca, trazendo o jovem Juan do mundo dos sonhos ao mundo real. Ao olhar as horas rapidamente ele se alerta. Tem um compromisso e não costuma se atrasar. Bastante apressado ele toma banho, veste-se e perfuma-se com uma das suas colônias preferidas. Penteou seus cabelos negros os quais trata com bastante cuidado. Estava pronto. Ouve-se uma buzina. Era Pedro, seu melhor amigo, que o esperava em seu Celta preto. Estavam animados para curtir à noite.
Não demoraram a chegar. A boate estava lotada. As namoradas deles esperavam-nos em pé frente à casa de shows. Cada um abraçou sua amada, dando um beijo demorado. Em seguida os quatro curtiam na pista de dança. Beberam, dançaram, beijaram. Tudo que a maioria dos jovens modernos mais gosta de fazer.
Já era tarde da madrugada. Vieram todos juntos no carro de Pedro. Juan dormiu no caminho.

***

1º dia
Domingo à tarde. Juan acorda em um hospital. Assusta-se. Levantou-se e olhou em volta. O silêncio reinava no local. Caminhou vagarosamente entre as camas. Olhando para os lados procurava uma porta. Facilmente encontrou, porém surpreendeu-se: a porta não abria.
- Desse jeito você não sairá daqui tão cedo. – ouviu-se uma voz
Apavorado, o jovem Juan observou cuidadosamente tudo em sua volta. Não avistava ninguém por perto.
- Quem está aí?
- Está com medo, Juan?
Ao ouvir seu nome, o jovem sentiu um breve frio na barriga. Quem é esse sujeito? Seja quem for este alguém já lhe causou medo. Procurou por perto uma tesoura ou qualquer coisa que o ajudasse a se defender.
- Hahaha... Calma, meu companheiro, não te farei mal algum.
- Então porque se esconde?
- Tenho mania de me esconder. E você nunca percebe isso.
- Como assim? Você nem me conhece.
- Eu te conheço melhor do que você imagina.
- Tá brincando... – ri Juan ainda com medo – Vamos, pára de brincar e mostra a cara.
Ouve-se de longe passos lentamente se aproximando. Juan espera pacientemente a aparição do misterioso rapaz, que não tarda a mostrar-se. O ruído da maçaneta chamou a atenção de Juan, que vidrou os olhos na porta. Lentamente a porta se abria, e o ranger desta incomodava o rapaz, que estava impaciente.
- Pronto, Juan, aqui estou eu.
- Hum... Sabes meu nome. Diga-me o teu.
- Luan. Nomes parecidos, não?
Cada passo a frente dado pelo rapaz de nome agora revelado era causa de mais tremor das mãos de Juan, que suava cada vez mais. A luz das lâmpadas iluminava bem lentamente o corpo de Luan, que ao ter sua aparência finalmente revelada, surpreendeu imensamente o outro rapaz...