Musa platônica


Algum dia me disseste
Sem mover teus lábios
Tudo o que eu precisava sentir
Para sorrir novamente.

Dias e noites voavam
Ao som de tua voz
E sobre as asas do tempo
Eu viajava em teu olhar.

Risos e prantos...
Vivenciamos ao som do luar
Deitados na areia
Sentindo à pele a brisa do mar.

Indo e vindo pelas nuvens
Te encontrei em sonhos
Em que trajavas tua pureza
E descalça me abraçavas.

A luz que toca os teus lábios
Desliza sobre teu corpo
Dançando sobre tuas curvas
Escorregando sobre teus braços.

Nada a ti se compara
Musa que ri e chora
Deusa de carne e osso
Dona da minha aurora.

As tuas mãos...
Quero sempre tocá-las
Com teus pés...
Quero sempre caminhar
Cair contigo,
Levantar-me contigo
Sorrir contigo,
Chorar contigo,
Ver o dia nascer e a noite cair
E poder ter a certeza
Que jamais verei você partir.

Beleza imortal


Quem és tu,
Que montada em teu cavalo me observa
E fitando-me com teu olhar me paralisa
Fazendo-me transpirar e viajar
Pelo mais distante infinito?

Quem és tu, senhorita,
Que com apenas teu caminhar
Amedronta a todos os mortais
Que rezam pela sua ausência
Mas sabem que um dia tu haverás de chegar?

Quem és tu, bela dama,
Que cavalgando pelo além
Assiste toda a desgraça dos miseráveis
E com um golpe de misericórdia
Livra-os de todo o sofrimento?

Quem és tu, guerreira,
Que com tua espada e teu cavalo
Liberta os infelizes das dores vitais
Cantando a mais antiga das canções
A mais antiga e poderosa canção
Que nos dá a graça de um sono eterno?

Apenas sei que és o segredo da vida
Porque sem ti ela não existiria
Nem sentido algum ela teria.

E que teu tenebroso olhar
Frio e misterioso
É resultado dos infinitos anos de solidão
Em que esteve presente entre os vivos,
Em que foste a rainha dos mortos.

Serena


Eu conheço teu olhar
Solitário e vago no infinito
Teus olhos azuis vidram em mim
Como se eu fosse apenas uma fantasia.

Tuas mãos... Pálidas e macias
Gélidas elas me tocam
Silenciosamente
Como se eu fosse apenas uma fantasia.

Teu perfume jamais eu esquecerei
Mais suave e doce que um paraíso de rosas...
Rosas agora e eternamente murchas
Murchas por sede de sentimento.

Nunca me disseste
Ao menos meias verdades
Tua ausência me fere, me esmaga no chão
Sem dó nem piedade você sorri
E friamente se despede.

Como se eu fosse apenas uma fantasia.
Como se eu fosse apenas uma pequena fantasia.
Como se eu fosse tua única fantasia.
Como se eu fosse tua mais distante fantasia.

Quando na verdade
Sou teus sentidos, pensamentos e emoções
Vividos num cemitério
De pequenas fantasias.

Sem surpresas


Um coração
Que se enche como um aterro sanitário
Um trabalho que te mata lentamente
Feridas que não cicatrizam.

Você parece
Tão cansado, infeliz.
Derrube o governo!
Eles não, eles não falam por nós.

Levarei uma vida tranqüila
Um punhado
De monóxido de carbono.

Sem alarmes nem surpresas,
Sem alarmes nem surpresas,
Silêncio! Silêncio!

Essa é minha dor fatigante final,
Meu último suspiro.

Sem alarmes nem surpresas,
Sem alarmes nem surpresas,
Por favor.

Uma casa tão linda!
Um jardim tão belo!

Sem alarmes nem surpresas (leve-me daqui)
Sem alarmes nem surpresas (leve-me daqui)
Se alarmes nem surpresas, por favor.

por Thomas Yorke (RadioHead)