A despedida do poeta

Já cessara no oeste o canto ríspido
Do nigérrimo corvo sobre as tulipas
Ao rebentar a luz fria do crepúsculo
Entre as nuvens de uma tarde fúlgida
Em silenciosas lágrimas insípidas.

Calou-se em minhas mãos a poesia,
Filha primogênita de teus versos,
Na angústia de um canto insólito
De um sentimento incógnito e avesso,
Dissolveram-se minhas canções em agonia

Não permitirei que se alimente o verme
Da perda anatômica do irmão amado,
Carregar-te-ei no peito aos confins da terra
Para que a miserável ânsia dum verme desgraçado
Não te definhe aos meus olhos a epiderme!

Abençoar-te-á, glorioso irmão, a ínfima luz da lua
Saciarei minha sede com tuas palavras céticas
Na esperança de libertar-me a poesia paralítica
Declamarei taciturno aos desertos a elegia
Em frígidos vocábulos e náuseas epiléticas
Ao poeta que, quando infante, abracei outrora
E fora covardemente extinto pela pneumonia!