Pequeno homem sendo apagado: Segunda parte

... eram eles fisicamente idênticos.
- Minha nossa! Como isso é possível?
- Mas por que a surpresa, companheiro? Parece até que não nos conhecemos.
Juan, boquiaberto, aproximou-se de Luan e tocou-lhe a face. Não acreditava que alguém pudesse ser idêntico a ele.
- Tenho que ir, amigo.
- Eu vou com você. Eu não quero ficar aqui sozinho.
- Não, companheiro, você não pode ir comigo.
- Por quê?
Antes que fosse respondido Juan sentiu uma leve tontura, que foi se intensificando aos poucos, impossibilitando-o de permanecer de pé.
- O que você fez? – gemeu o rapaz, que caiu nos braços de Luan.
- Calma, vai ficar tudo bem.
- Pro... me... te...?
Juan desmaiou nos braços de Luan, que o beijou no rosto e o deixou cair no chão.
- Prometo. – e saiu

***

2º dia
Segunda pela manhã. Juan abriu os olhos lentamente. Não estava mais no hospital. Nem em casa. Estava deitado sobre uma grama verde. Ficou pensando no porquê de ele estar ali naquele momento. Ao teu lado se encontrava um belo violão. Sorriu. Pegou carinhosamente o instrumento e pôs-se a cantar baixinho suaves canções. Lembrou-se de Clarissa, sua amada. Onde ela estaria naquele instante? Após alguns minutos Juan lembrou-se do dia anterior e de tudo o que acontecera neste. Olhou para os lados e não encontrou nenhum sinal de vida humano. Levantou-se. Iniciou uma lenta caminhada, sem rumo. Enquanto caminhava olhou para o chão e notou que havia sobre este, ao lado de uma formosa árvore, um esqueleto de peixe. Estranhou. Andou mais um pouco e avistou um riacho. Sorriu. Amava a natureza. Quando estava em contato com ela sentia-se extremamente confortável. Sentiu o cheiro de terra molhada e admirou as borboletas que voavam dentre as árvores. Espreguiçou-se. Naquele momento todos os seus problemas desapareceram! Já fazia certo tempo que ele havia se sentido tão bem como naquele instante. Tirou a camisa vagarosamente pensando em mergulhar. Ajoelhou-se sobre a margem e observou seu reflexo na água límpida. Levantou-se e terminou de desabotoar sua camisa. Abaixou-se e retirou também sapatos e meias. O ar fresco refrescava-lhe corpo e alma. Fechou os olhos e abriu os braços sentindo-se completamente livre. Por alguns instantes Juan viajou a outro mundo! Estava naquele lugar apenas fisicamente. Abriu os olhos, respirou fundo e pulou na água fresca. Ergueu os braços e gritou alto, como nunca havia gritado antes. Mergulhou um mergulho demorado, e começou a nadar admirando o que havia naquele riacho, todas aquelas maravilhas marinhas.
- Purificando a mente, meu caro? – Luan o observava caminhando sobre a margem
Juan não demonstrou felicidade alguma ao ver quem estava ali. Saiu da água e olhou seriamente para Luan.
- Por que você vive a me perseguir, infeliz?
- Nossa! Como és mal-educado. Deveria me agradecer por estares aqui. Sei que precisamos purificar nossa mente às vezes. Por isso lhe trouxe aqui.
- Problema o seu. Nunca lhe pedi nada. E porque deixou aqui?
- Você que pediu, ora.
- Cala-se seu cínico! – berrou Juan – Qual a finalidade desta sua brincadeirinha? Quem é você? O que é você?
- Eu sou quem você quiser que eu seja.
Juan suspirou, vestiu suas roupas e saiu, ignorando a presença do outro indivíduo.
- Para onde vais, criatura?
Sem olhar para trás Juan continuou caminhando.
Passou entre árvores, avistou de longe uma bela macieira. Direcionou-se a esta. Ela era realmente belíssima!
Luan, que vagarosamente se aproximava, gritou:
- Afasta-te daí, Juan! Não comeis do fruto proibido!
Sem dar ouvidos a ele, Juan tentou alcançar a maçã mais vermelha daquela árvore.
- Eu posso te ajudar? – ouviu-se uma voz feminina
À primeira vista o jovem não acreditou no que via. Era Clarissa, sua amada. Estava ali, lado a lado com ele. Ao olhar nos olhos dela seus olhos se encheram de lágrimas. Lentamente olhos e lábios se aproximavam.
- Clarissa, te esperei tanto tempo.
- Mas agora somos um, na paz mais eterna. Beije-me, Juan.
E os dois se calaram no ardor daquele beijo. Após o ósculo Clarissa ofereceu ao amado aquela maçã vermelha, encostando-o nos lábios o fruto. Ele então, mordeu este a olhando nos olhos. Pouco depois Juan sentiu-se mais fraco.
- O que foi, meu bem? – preocupou-se Clarissa
- Está tudo bem.
As pernas do rapaz começaram a estremecer, impossibilitando-o de permanecer em pé. Logo o jovem caiu.
- Juan, diga-me! O que está havendo? Oh céus!
- Clarissa, você me ama?
- Sim! Lógico que eu te amo!
- Então coma deste fruto e venha comigo.
- Mas para onde?
- Para longe daqui.
Ligeiramente Clarissa mordeu o fruto e segurou a mão do seu amor. Ajoelhada ela o beijou novamente. Após sentir-se tonta deitou-se com a cabeça sobre o peito dele. E juntos descansaram debaixo da formosa macieira.
Luan abanou a cabeça ao olhar para o casal. Atirou uma rosa vermelha no peito dele e saiu... Sem rumo.

***

3º dia...