Já cessara no oeste o canto ríspido
Do nigérrimo corvo sobre as tulipas
Ao rebentar a luz fria do crepúsculo
Entre as nuvens de uma tarde fúlgida
Em silenciosas lágrimas insípidas.
Calou-se em minhas mãos a poesia,
Filha primogênita de teus versos,
Na angústia de um canto insólito
De um sentimento incógnito e avesso,
Dissolveram-se minhas canções em agonia
Não permitirei que se alimente o verme
Da perda anatômica do irmão amado,
Carregar-te-ei no peito aos confins da terra
Para que a miserável ânsia dum verme desgraçado
Não te definhe aos meus olhos a epiderme!
Abençoar-te-á, glorioso irmão, a ínfima luz da lua
Saciarei minha sede com tuas palavras céticas
Na esperança de libertar-me a poesia paralítica
Declamarei taciturno aos desertos a elegia
Em frígidos vocábulos e náuseas epiléticas
Ao poeta que, quando infante, abracei outrora
E fora covardemente extinto pela pneumonia!
A despedida do poeta
A. de Lima | 08:14 | | 3 comentários
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3 comentários:
Nobreza de espírito, reflexo do autor. Mais vale uma jura fidelidade tão notável a uma infinidade de vinténs.
Pois é, meu distinto amigo, a sua lealdade vai muito além de uma jura de amizade eterna... Foi leal ao idioma, encarando o desafio de retratar o clima fúnebre, o caminho nefasto que o temor à morte traz ao ser.
Podem os vermes nutrir-se da carne, mas jamais apagarão o que constrói-se numa vida honrosa.
Continue leal à poesia, ao que ama. Como retribuição, fará sorrisos, mesmo que não escancarados, semelhantes ao meu, agora.
Grato por saciar meu ego poético.
Parabéns.
krai rafael vc escreve pkralho (y)
parabens vei :)
Quão belas as tuas palavras,estas que chegam ao nosso intimo chegando a nos levar para longe,nos deixando anesteziados.
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