A despedida do poeta

Já cessara no oeste o canto ríspido
Do nigérrimo corvo sobre as tulipas
Ao rebentar a luz fria do crepúsculo
Entre as nuvens de uma tarde fúlgida
Em silenciosas lágrimas insípidas.

Calou-se em minhas mãos a poesia,
Filha primogênita de teus versos,
Na angústia de um canto insólito
De um sentimento incógnito e avesso,
Dissolveram-se minhas canções em agonia

Não permitirei que se alimente o verme
Da perda anatômica do irmão amado,
Carregar-te-ei no peito aos confins da terra
Para que a miserável ânsia dum verme desgraçado
Não te definhe aos meus olhos a epiderme!

Abençoar-te-á, glorioso irmão, a ínfima luz da lua
Saciarei minha sede com tuas palavras céticas
Na esperança de libertar-me a poesia paralítica
Declamarei taciturno aos desertos a elegia
Em frígidos vocábulos e náuseas epiléticas
Ao poeta que, quando infante, abracei outrora
E fora covardemente extinto pela pneumonia!

3 comentários:

Porto disse...

Nobreza de espírito, reflexo do autor. Mais vale uma jura fidelidade tão notável a uma infinidade de vinténs.

Pois é, meu distinto amigo, a sua lealdade vai muito além de uma jura de amizade eterna... Foi leal ao idioma, encarando o desafio de retratar o clima fúnebre, o caminho nefasto que o temor à morte traz ao ser.

Podem os vermes nutrir-se da carne, mas jamais apagarão o que constrói-se numa vida honrosa.

Continue leal à poesia, ao que ama. Como retribuição, fará sorrisos, mesmo que não escancarados, semelhantes ao meu, agora.

Grato por saciar meu ego poético.

Parabéns.

Luca disse...

krai rafael vc escreve pkralho (y)
parabens vei :)

hugo disse...

Quão belas as tuas palavras,estas que chegam ao nosso intimo chegando a nos levar para longe,nos deixando anesteziados.