Quarentena

O vento que assobia agora na janela

Lembra-me a maciez do timbre da voz dela
O silêncio que canta às seis seu estribilho
Ecoa a timidez do riso de meu filho
A luz que saboreia o rubro da romã
Traz-me o vermelho do cabelo de minha irmã.

Cortinas ensurdecem o céu sem lua, em luto
Enegrecem o chão frio da sala onde me escuto
Cantar louvores, dissabores e outras cores
Colorirem a pálida porta em sons de flores
Ou de retratos que me tragam à lembrança
Os dons em mil tons da ternura de minha infância.

A tristeza dos lençóis aos meus pés conforta
E ao teto pincelado em natureza morta
Meus braços e abraços outrora já esquecidos
Meus lábios saudosos se beijam estremecidos
Repousam as sombras dos dias que me deixam
Calam as horas de meus olhos que se fecham.

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