A Enseada. Capítulo II: Areia

 Entre risos, sorrisos e bolas de lama, ambos assistiram  voar o tempo daquela manhã que mal começara.

Após duas ou três horas de brincadeiras, posto que o sol já estava se aproximando do centro do céu e a faixa de areia onde brincavam já não estava mais fofa e úmida como estivera no começo da manhã, assentaram-se perto do mar, onde as gaivotas  vagavam junto às ondas. Posicionaram-se sentados um ao lado do outro, de frente para o mar. O garotinho com cabelo de índio resolveu iniciar o diálogo indagando-lhe qual o seu nome. Ouviu-se, inicialmente, uma tentativa de balbuciar alguma palavra como resposta, de modo que não se entendia se o amigo era tímido ou estava com alguma dificuldade para responder. Ele estendeu o braço e, com o dedo indicador esquerdo, pôs-se a riscar o chão arenoso, chamando a atenção do amigo cutucando-o com o cotovelo assim que concluiu as quatro letras que rabiscara. O outrogaroto entrou na brincadeira e também escreveu seu nome na areia, o qual também continha quatro letras de modo que foi assim que ambos revelaram seus nomes um ao outro.

Inesperadamente, as ondas, que àquela hora já invadiam com força a larga faixa de areia da praia, surgiram de surpresa e derrubaram os garotos na areia, os quais, deitados no chão de braços abertos e às gargalhadas, demonstraram ter adorado a brincadeira. Enquanto as duas crianças divertiam-se, as ondas recuavam, retornando para o oceano. Após descansarem por alguns instantes, os garotos  tornaram a sentar lado a lado, erguendo suas cabeças em direção ao sol  para enxugarem seus rostos e assistindo ao tempo sobrevoar o mar salgado como as gaivotas sobre as ondas. O primeiro levantou-se, e, passando os dedos por entre os cabelos lisos e castanhos, apontou para o mar, desafiando o amigo para uma corrida. O outro, agachado, tornava a escrever na arei, enquanto via o amigo já a distância adentrar o mar correndo e pulando. Não querendo ficar para trás, ele ergueu-se apressado e despreocupado que a água morna e salgada desmanchava o que ali havia sido registrado:

Davi e Jacó, amigos para sempre.

Embora o mar tentasse apagar o que fora escrito minutos atrás, jamais desmancharia o laço eterno que ali surgira.

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