Luíza: Parte 2

Heloísa fora a única testemunha de tal fato de que ocorrera durante o funeral, mas permaneceu calada para não provocar transtornos.
Quanto à falecida menina, as orações em sua memória perduraram por seis meses, como de costume.
Certa vez, quando Heloísa acabara de acordar, notou que sua parede estava riscada, e que aos poucos os riscos se tornavam mais visíveis. Meio assustada, levantou-se e tentou enxerga-los com mais clareza. Rapidamente viu-se claramente a seguinte frase: “Reze por ela... e por você também”. Com o susto ela caiu para trás, mas logo tentou correr em direção à porta do quarto. Em vão. A porta não abria. Tentou mais uma vez, agora com todas suas forças, mas não conseguia. As palavras estavam escritas em todo o cômodo, e Heloísa se desesperava em vão. Subitamente as escrituras desapareceram e a porta abriu violentamente lançando a mulher sobre a cama. Ela permaneceu trêmula por alguns minutos, mas logo se levantou e caminhou apressadamente para o oratório.
Tal acontecimento continuou na mente da boa senhora por algumas semanas, até que ela resolveu, por interpretação dos fatos, pedir que retornassem as orações por Luíza, mas a diretoria do convento afirmou que seis meses eram o bastante, recusando assim o pedido de Heloísa.
Havia vizinho ao convento um pequeno orfanato, este pertencente àquele. Lá se encontrava crianças de todas as idades, porém, todas brancas. Num dia comum, na enfermaria do orfanato, ouviu-se gritos que pareciam ser de desespero. Duas carmelitas correram imediatamente até lá e encontraram um garotinho caído no chão e com um terço envolto ao seu pescoço. Estava ele desmaiado. Seu coração não batia, sua respiração estava cessada e ele não reagia aos socorros. Doze horas depois o menino foi declarado morto e novamente o constrangimento pesava sobre a consciência das freiras. Maior ainda foi a culpa carregada nos ombros de Lúcia, a enfermeira responsável pela custódia do garoto, esta que não parava de chorar por um segundo.
Durante o velório as lágrimas do silêncio predominavam por toda a parte, até que um grito desperta a atenção de todos os presentes. Era Heloísa, que corria em direção ao caixão.
- A criança está viva! Tirem-na daí! – abraçou ela o menino
Realmente era verdade. Durante o velório Allan, esse era o nome dele, abrira os olhos, causando tremenda alegria à Heloísa, que oscilava entre o riso e o choro. Lúcia quase desmaiou de tremenda alegria. Tudo voltou ao normal.
A senhora implorou para que o menino ficasse sobre sua custódia. A diretoria não viu problema algum nisso e aceitou pacificamente.
No dia seguinte ela foi à enfermaria com o intuito de conversar com a criança, mas de maneira lenta, para não assustá-la. Ela queria respostas. Respostas para questões levantadas por ela após a quase morte de Allan.
- Allan, o que você fazia ontem enquanto estava deitado aqui na enfermaria? Estava dormindo?
- Não, senhora, eu apenas questionava sobre a vida.
- Nossa! Você nessa idade já questiona a vida? – disse Heloísa sorrindo
- Sim, queria saber por que tanta criança no mundo tem seus pais e eu não. Não me acho um menino ruim.
- Eu também não tenho nem pai nem mãe.
O garoto a olhou com um ar de reprovação:
- Eu só tenho nove anos, garanto que você tem mais que isso.
- Nunca conheci nenhum dos dois, Allan.
- Eu preferiria não tê-los conhecido a perdê-los aos nove anos. – Disse o garoto engolindo seco.
- Perdão, não sabia que a perda foi tão recente.
- Por que você acha que eu estou aqui nessa enfermaria? Por quê? – berrou o menino
- Calma, respire... Vamos mudar de assunto, certo?
- Certo. – suspirou Allan enxugando as lágrimas
- E em algum momento, enquanto estava aqui, você adormeceu?
- Eu estava deitado quando de repente apareceu um garoto da mesma idade que eu. Ele era negro e estava deitado naquela cama ali. – apontou para a cama vizinha, que estava vazia. – Ele se levantou e me chamou para brincar. Tentei me levantar, mas eu não sei mais andar. Só que eu fiquei tão feliz que havia esquecido disso. Na tentativa de eu me levantar eu caí e... e... e pronto. Não lembro de mais nada.
Heloísa ao ouvir o que o garoto disse levantou-se e caminhou em direção aos quartos do orfanato, mas subitamente ela parou. Suou ela frio. Havia lembrado que aquele lugar só possuía crianças brancas. Naquele instante a carmelita simplesmente não sabia o que fazer, apenas imaginava como um garoto negro estaria no quarto, ao lado de Allan. A freira não desistiu e pôs-se a andar novamente direcionando-se aos dormitórios. Eram muitos, mas para ela isso não importava. Visitou-os um por um, mas não achava a criança desejada. No último daqueles encontrou a Irmã Marília, a qual a informou que haviam crianças brincando no jardim. Ela não desistiu, foi até lá. Em vão. Não tinha criança negra alguma por lá.
Heloísa voltou à enfermaria para tornar a conversar com Allan, mas ele não estava mais lá. A Irmã Denise disse que ele voltaria em poucos instantes, pois estava tomando banho.
A senhora resolveu esperar. Ao sentar observou um papel dobrado e meio amassado sobre o travesseiro. Vagarosamente o papel foi lido, onde estava escrito: “Tinho, onde está você? Espero que venha me visitar novamente. Preciso de amigos.”. A carmelita ficou trêmula e ao mesmo tempo aliviada. Agora sabia o nome do garoto.
- Xeretando minhas coisas, senhora? – era Allan, trazido nos braços de Lúcia e posto na cama.
- Desculpe, Allan é que...
- Eu entendo a vontade que você tem de saber quem é o Tinho, mas desse jeito acho que você vai gastar muito tempo.
- Não é bem isso...
- Não precisa se desculpar, senhora, eu entendo a situação pela qual você está passando.
- Nossa! Como você tem o português bem falado, Allan, onde aprendeste a falar assim?
- Foi o tipo de educação que eu recebi.
- Hum... Você é muito inteligente e educado, garoto. – sorriu Heloísa
- Sua tentativa de mudar de assunto falhou, senhora.
- Menino! Estás me deixando sem graça desse jeito. Por que és tão frio comigo?
- Meus pais eram frios, por isso sou assim. Porém eles me amavam. – derramou uma lágrima a criança
Heloísa se comoveu com a tristeza do menino e fez um sinal para a enfermeira pedindo que ela se retirasse. Lúcia obedeceu ao pedido.
- Me fale sobre seu amigo, o Tinho.
- Não falarei sobre ele pra você, senhora.
- Por que você só me chama por senhora?
- Porque é o que você significa pra mim. Apenas uma senhora.
- Ó céus, o que foi que eu fiz para merecer esse tipo de tratamento? Meu nome é Heloísa. Se quiser você pode me chamar por vó, certo?
- Certo, senhora.
Neste exato momento o sino tocou e todos se direcionaram ao refeitório, pois era hora do almoço. Heloísa se levantou e avisou a Allan que iria buscar o almoço dele. Ele fez sinal de positivo e debruçou-se sobre a cama.
O comportamento da criança era o que mais intrigava a carmelita. Ficava esta muito curiosa para saber como foi o passado do menino, mas pelo tipo de tratamento que ela recebia dele se tornava quase impossível o garoto contar algo à freira.
Chegando ao refeitório Heloísa procurou Allan com o olhar, achando-o facilmente. Pôs-se ela a sentar e a esperar servirem-na. Vagarosamente baixou a cabeça e iniciou uma oração. Enquanto orava notou que tudo estava em profundo silêncio. Assustada, ergueu rapidamente a cabeça e observou tudo ao seu redor. Via apenas meninos conversando e algumas carmelitas servindo o almoço. Pensou estar surda, o que a fez suar aos poucos. Trêmula, sentiu que seu coração acelerava e sua respiração cessava, como se estivesse ela engasgada. Rapidamente passou sobre sua mente a imagem de uma menina engasgando-se com um brinquedo em sua boca no quarto 039. Instintivamente Heloísa correu em direção ao quarto 039, assustando a todos em sua volta.
A carmelita subiu as escadas o mais rápido possível. Durante a subida ouvia gritos de desespero, deixando-a mais nervosa.
- Estou chegando! Agüente aí, pelo amor do Santo Cristo!
Ao chegar ao destino desejado encontrou mais um obstáculo: estava o cômodo trancado. A senhora tentou várias vezes abrir a porta, mas foi em vão. Continuou persistindo até que por um instante a porta abriu, permitindo-se apenas ver o quarto por uma pequena brecha. Porém, quando Heloísa tocou sua mão na porta, esta fechou violentamente, jogando-a a três metros de distância do quarto. Lentamente a freira ergueu-se e, ao entrar no aposento, surpreendeu-se...

4 comentários:

Anônimo disse...

aewwwww...primeironaaa!!!
essa parte eu gostei mt e tb num gostei...poixxxx vc num terminou...e eu odeio fik curiosa....!!!
bjussss
;*****

Anônimo disse...

Você disse que era só duas partes, safado, huahahahah se eu ficar com medo vou te culpar XD

Dimi disse...

wow!
Essa foi massa...
^^,
E eu lendo 3h da madrugada...

Anônimo disse...

ta ficando melhor ainda!!!!!!!!