Luíza: Parte 1

Luíza. Esse era seu nome. Morava em uma casa comum em algum lugar do Brasil. Irmãos? Não os tinha. Vivia com seus pais cujos nomes eu não tenho conhecimento. Ela era jovem, apenas dez anos, longos cabelos negros, da cor de seus olhos, branquinha que só. Sua vida era monótona, baseada numa rotina “casa-igreja-escola”, afinal, a educação que recebia era extremamente rigorosa.
Tinha apenas treze anos quando seus pais morreram em um trágico acidente de carro. A sua guarda ficou sob custódia de seus avós, que a colocaram num convento. A garota de nada reclamou, aceitou tudo silenciosamente.
O convento se localizava em um local meio isolado da cidade. Lá, as freiras costumavam viver à moda antiga, usando vestes pesadas e com educação rígida. Pelas redondezas andavam a cavalo e a noite era iluminada por belos lampiões. Havia lá também uma escola que se iniciava a partir do Ensino Médio. Apesar de todos os costumes, todas elas iam freqüentemente à cidade e tinham conhecimento do que havia por lá.
No dia em que Luíza chegou a tal lugar notou rapidamente a enorme diferença entre este e a cidade, mas brevemente se adaptou. Porém, agora se tem hora para comer, brincar, orar e estudar. Mesmo assim, Luíza às vezes desrespeitava as normas.
A garota não dormia. Ficava apenas deitada ou fingia dormir até perceber que todos dormiam para poder admirar a noite e caminhar pelos jardins. Certa vez, em plena madrugada, deitada sobre a leve e macia grama coberta de belas flores que envolviam o chafariz, quando ouviu alguém chamar seu nome. Assustou-se, pensando imediatamente na possibilidade de ser uma das freiras como a Irmã Laura, que batia naqueles que a desobedecessem. Mas não era. Ficou de pé, trêmula e com os olhos arregalados, observando tudo o que podia, até ouvir a mesma voz, que vinha de detrás de uma árvore. Ela caminhou vagarosamente na direção daquele belo cajueiro. E lá estava um bonito rapaz, que trajava uma batina e guardava um crucifixo por detrás desta. Luíza, assustada, perguntou como ele sabia seu nome, e ele disse-a que ficasse calma, pois também era do convento, e a menina jurava nunca tê-lo visto. O homem beijou a mão da mocinha e a convidou para ir à cidade. Convite recusado, pois era lei sair apenas com permissão. Sorrindo, o indivíduo afirmou ser um padre, que era uma autoridade. A doce criança pediu um pouco de tempo, e que ele a encontrasse no dia seguinte, na hora do almoço ou na missa. Ele respondeu que não seria possível, mas que os dois se encontrassem na madrugada do dia seguinte.
Ao acordar Luíza permaneceu sentada em sua cama, pensativa, brincando consigo mesma de tentar adivinhar o nome do novo amigo. Não, ela não tinha interesse algum para com aquele homem, ela só quer um amigo, e afinal, ele é um padre.
Após o almoço a menina procurou o pároco dentro do convento, porém não o encontrou.
Durante a noite a jovem fingiu dormir por horas, até o relógio marcar a meia-noite. Quando chegou o momento tão esperado, correu para o jardim e deitou-se na grama como de costume.
-Estava me esperando, Luíza?- soou uma voz grave em seus ouvidos.
-Padre? - ergueu-se ela e viu o clérigo sentado em um dos bancos do jardim.
-Sim, eu mesmo... – sorriu ele.
-Lembra que você disse ontem que me levaria à cidade hoje? Não é por mal, sabe, é que eu quero conhecer parte dela, e o senhor é o único homem que não teria más intenções para com uma criança como eu, e...
-Eu entendi, entendi... e... Senhor? Não, não, me chame por você mesmo... e obrigado pela confiança. – disse ele estendendo a mão à mocinha.
Quando chegaram à porta da imensa instituição ela parou de andar:
- Qual o seu nome? Acho que não perguntei...
- Sou o Padre Lucas. E você é a Luíza, não é?
- Sim, sou... como sabe meu nome? – riu com um sorriso de dúvida.
- Ora, sei o nome de todos daquele convento.
E assim continuaram a andar rumo à cidade. Andaram durante quase meia hora e comeram em um restaurante simples. Vendo que já eram duas horas da manhã, Lucas perguntou:
- Quer dormir lá em casa? Já é tarde... Mas calma, antes que pense algo mal intencionado, vou avisando que moro na parte do fundo de minha Igreja e lá também é um convento, não tão grande quanto o seu, mas tem meninas de sua idade e...
- Não... quero ir para a minha casa. Você, apesar de ser um padre ainda é estranho para mim, certo?
- Oh! Desculpa, Luíza. – baixou ele a cabeça – Eu te levo em casa.
A garota foi deixada na porta do seu lar e logo que deitou em sua cama, adormeceu.
Passaram-se três semanas e o clérigo não apareceu. Luíza aos poucos sentia saudades e pensou ter agido grosseiramente com Lucas.
Numa noite de sábado, enquanto ela dormia, sentiu calor, o que a acordou. Foi então abrir a janela, e ao fazê-lo assustou-se gritando. Lucas estava em sua janela.
- Que susto! – sussurrou ela
- Calma, sou eu. Vim aqui de passagem...
- Você não dorme? Você nunca dorme, não é?
- Eu celebro missas à meia–noite, por isso a essa hora estou de pé ainda. Acabei de sair da igreja.
- Hum...
- Já que você ta acordada, por que não troca de roupa e vamos a um restaurante de classe alta?
- Não posso...
- Como não? Vamos... vai ser rápido.
A garota rendeu–se ao convite rapidamente e trocou de roupa enquanto ele a esperava no jardim.
Jantaram às gargalhadas comidas estrangeiras como se fossem velhos amigos e nem notaram o tempo passar.
- Eu tive uma idéia: Que tal se eu passasse lá no apartamento onde passo o fim de semana, daí você me espera, eu troco de roupa e vamos a vários lugares da cidade?
- Mas por que você vai lá? Vamos assim mesmo.
- É que se virem que estou de batina saberão que sou padre e me vendo com uma menina que tem idade de ser minha filha vão pensar o que de mim?
- Mas não vamos demorar, certo? Tenho que voltar logo.
Eles não precisaram andar muito para chegar até o edifício. Era o mais belo da zona mais rica da cidade. Luíza espantou-se com tamanha beleza do lugar. Lucas pediu para ela entrar e ao chegar frente ao elevador ela parou e disse que o esperaria ali mesmo. Ele insistiu e implorou que ela esperasse na escada. Ela aceitou.
Quando o elevador parou, ela abriu a porta, mas ele disse que ainda era o sétimo andar e o apartamento localizava-se no nono.
- Então porque parou aqui?
- Preciso te contar uma coisa e espero que entenda: quando eu te vi, queria ser apenas seu amigo, mas as coisas começaram a mudar, eu comecei a... a... a sentir prazer por você, porque você é tão doce, tão pura – disse aproximando-se dela – quero algo mais de você, pequenina...
Luíza ficou pasma e se afastava a cada passo que ele dava, mas houve um momento em que ela estava em tal posição que não tinha para onde ir. Ele falava com os olhos brilhantes, o que rendeu a menina... o que fez o beijo entre os dois acontecer. Ele a segurou com firmeza e ela o abraçou durante o ato. Menina de 13 e homem de 40; padre e pequena freira: um ato proibido. Continuaram por dois exatos minutos, até que Luíza recuou.
- Não, eu não posso!
- Claro que pode. – aproximou-se novamente
- Não, está errado... desculpe, eu não posso.
- Eu não de dou prazer, é isso?
- Não é isso, é que...
- Calada! – gritou ele – eu te dou tudo e você me agradece assim, não é?
- Não, você não enten...
- Cale-se! – gritou estapeando a face dela. A culpa é sua de eu ter sentido prazer por você, então, terá o que merece!
- Lucas... – lacrimejou Luíza – É um mentiroso! – Você mentiu!
- Não, eu não menti! Talvez sim... mas verás a verdade agora.
- Que verdade?
- Essa. – sussurrou ele puxando-a a força.
Bruscamente, Lucas a beijou e, ao notar a presença de um crucifixo envolto ao pescoço dela, o usou como arma, enforcando-a. Luíza reagia em vão.
Logo ela morreu, enforcada e pura, deixada dentro daquele elevador, presa ao teto. Foi encontrada dois dias depois, com seu sangue totalmente coagulado e seu corpo fétido. No espelho do elevador estava escrito: “Reze por ela... e por você também”.
O convento ficou em profundo luto, e em seu enterro, num dia bastante chuvoso, a tristeza era predominante no cemitério. Heloísa, uma carmelita que de Luíza bastante gostava, observava tudo em profundo silêncio: a chuva caía, o caixão molhava, o povo chorava. A chuva caía, o caixão molhava, o povo chorava. A chuva caía, o povo chorava, o caixão molhava... molhava... vazio...

5 comentários:

Anônimo disse...

rafaaaaaaaaeeel
num vou ler isso neem a paau
maais to comentaando ;)
te adoro
bjoo ;*

Anônimo disse...

essa parte eh meio eskisita + eu gostei pow...eh legal!!!
bjuss
;****

Dimi disse...

Hey...
um amogo meu (Ramon sabe?)
me mostro teu blog...
Adorei!
Você escreve muito bem!
Eu tbm escrevo... mas n sei se tão bem assim...
passa lá no meu blog...

P.S: Agora tou sem tempo, mas logo, logo te coloco nos favoritos.
Abraço...

tatiana hora disse...

todo almodovariano você!
xero

Anônimo disse...

Fiquei arrepiada...mt massa vou ler a segunda agora